Como a tecnologia está reprogramando seu cérebro? 

Como a tecnologia está reprogramando seu cérebro? 

Atualizado em:
13/6/2025 22:00

Da dopamina ao burnout digital: entenda os impactos cerebrais do vício na internet

Você já se pegou rolando o feed sem parar, se sentindo cansado, irritado e, ao mesmo tempo, incapaz de largar o celular? Esse sintoma tem nome — brainrot. Popularizada nas redes, essa expressão descreve a sensação de apatia cognitiva, dificuldade de foco e sobrecarga mental provocada pelo uso excessivo da tecnologia.  

Mas o que era só um meme ganhou respaldo científico: estudos de neurociência revelam que o vício digital não afeta apenas nosso comportamento, mas está, de fato, reprogramando a estrutura do cérebro humano.  

Na palestra "Brain Rot: Como a Tecnologia está Afetando Nossa Mente" que aconteceu mês passado no Rio2C, os palestrantes Ana Carolina Peuker, CEO da Bee Touch, Andre Cruz, CEO e fundador da Neura e Thais Requito, fundadora da Reskill Lab, se debruçaram nesse assunto e trouxeram diversos insights sobre o tema. E é claro que nós anotamos tudo para compartilhar com vocês, não é?  

Afinal, para quem trabalha com criação de conteúdo, esse dado não é só curioso - é essencial - já que se cria conteúdo para as mesmas plataformas onde você irá consumir conteúdo de outros criadores. É um looping. Por isso, entender o impacto da tecnologia é o primeiro passo para criar com mais intenção e menos exaustão.

Bora entender mais alguns dos conceitos abordados na palestra?  

O que a ciência diz?

Nosso cérebro não foi projetado para lidar com notificações constantes, recompensas imediatas e multitarefas ininterruptas. O hiperestímulo gera sobrecarga e afeta regiões cruciais como:  

  • Córtex pré-frontal – responsável pelo nosso planejamento, controle emocional e tomada de decisões. A hiperestimulação digital enfraquece diretamente a sua atuação, dificultando a concentração e a organização.
  • Sistema límbico – é quem regula nossas emoções, memórias e motivações. Quando é sobrecarregado, acaba intensificando aquelas reações impulsivas e instabilidade emocional.

Além disso, os principais neurotransmissores entram em desequilíbrio:

  • Dopamina – associada à recompensa. O scroll infinito gera picos artificiais e repetitivos, criando um vício comportamental semelhante ao de substâncias químicas.
  • Serotonina – essencial para bem-estar. Sua queda está ligada ao aumento da comparação social e da ansiedade.
  • Cortisol – o hormônio do estresse. Na era da híper conexão, ele é constantemente ativado, mesmo em atividades aparentemente “leves”.
  • Acetilcolina – fundamental para o foco sustentado. Quando pulamos de vídeo em vídeo, essa função se perde, alimentando a atenção fragmentada.

Cortes geracionais: para cada idade, um impacto diferente!

Os danos e desafios da tecnologia variam de acordo com a idade:

  • Crianças: apresentam déficits motores e na regulação emocional, além de comprometimento na aprendizagem simbólica e verbal e menor empatia pela falta de interação real.  
  • Adolescentes: enfrentam distorções de autoimagem, identidade digital fragmentada, ansiedade de performance e alta incidência de autodiagnósticos feitos por vídeos no TikTok, a camada “TikTok Psycology”.  
  • Adultos: lidam com burnout digital, perda de memória recente, ações de multitarefa improdutivas, conflito entre produtividade e saúde mental, dificuldade em se desconectar mesmo fora do horário de trabalho e baixa capacidade de presença nas interações familiares.  
  • Idosos: inclusão digital acelerada com desafios cognitivos e emocionais, risco aumentado de desinformação e isolamento digital, mas também encontram na tecnologia oportunidades de estimulação cognitiva, como IA assistiva e jogos terapêuticos.

A tecnologia como paradoxo digital: passeando entre a cura e o colapso

Apesar dos alertas , a tecnologia não é apenas uma vilã no processo de transformação cerebral — ela também pode ser uma aliada poderosa no cuidado com a mente e o corpo!

O avanço da inteligência artificial, por exemplo, já oferece soluções de impacto real e regenerativo. Um dos destaques da palestra foi o sistema AI Pathology, que atinge 93% de acurácia na detecção precoce de câncer de pele a partir de uma simples imagem de celular. Outros potenciais efeitos benéficos da tecnologia, segundo a neurociência, incluem:

  • Aprimoramento da plasticidade cerebral
  • Eficiência cognitiva aumentada
  • Simulações emocionais do futuro
  • Melhoria na tomada de decisões
  • Personalização de aprendizado

Esses avanços mostram que o impacto da tecnologia depende menos do seu formato e mais da intenção por trás de sua aplicação. O que nos leva ao outro lado da moeda: quando mal planejada ou usada de forma indiscriminada, a IA também pode contribuir para distorções profundas no funcionamento mental, como:  

  • Erosão da identidade cognitiva: perda da autonomia do pensamento, com o cérebro cada vez mais dependente de conteúdos prontos e respostas automáticas. Em outras palavras: você deixa de pensar por você e passa a apenas reagir ao que te entregam.
  • Desconexão com a realidade
  • Manipulação algorítmica de pensamentos
  • Diminuição da resiliência mental: É a redução da capacidade do cérebro de lidar com sentimentos como frustração, tédio, esforço e espera. Ou seja, o hiperestimulo digital treina o nosso cérebro para funcionar em ciclos de gratificação rápida.
  • Aumento da desigualdade cognitiva: Se refere ao aumento do distanciamento entre as pessoas com acesso a ferramentas que desenvolvem o cérebro (educação de qualidade, tecnologias de aprendizado, etc.) e aquelas expostas apenas a conteúdos de baixa complexidade, fruto de algoritmos manipulativos e que geram estímulos alienantes. Essa diferença impacta diretamente o desenvolvimento da atenção, da linguagem, da criatividade e da capacidade crítica.  
  • Sobrecarga emocional e complexificação da experiência afetiva

A esses riscos somados aos efeitos sociais e emocionais estão cada vez mais evidentes. O documentário “Sozinhos Juntos” (2025) traz à tona o paradoxo da era digital: nunca estivemos tão conectados — e tão solitários. A falta de contato humano genuíno desativa circuitos cerebrais ligados à empatia, ao afeto e à confiança. Como explica o pesquisador Matthew Lieberman, “a solidão crônica ativa as mesmas áreas cerebrais da dor física.”

Ou seja, o mesmo ambiente que oferece estímulo, cuidado e eficiência pode gerar desconexão, sofrimento e alienação. Cabe a cada pessoa — e especialmente a quem cria — entender esse equilíbrio e fazer escolhas mais conscientes.

Criadores de conteúdo: protagonistas e vítimas

Não é só o público que sofre os efeitos — creators também estão expostos (e muitas vezes mais vulneráveis) à lógica do algoritmo. Isso porque quando o desempenho de um post passa a definir o valor de um dia inteiro de trabalho, é fácil cair na armadilha da comparação, do vício em métrica e da autossabotagem criativa.

A palestra alerta: 75% das pessoas relatam dificuldade de concentração e 72% se sentem ansiosas ou irritadas após o uso prolongado das redes. Isso não é detalhe, é um sintoma coletivo. “Estamos ocupando nosso tempo livre com o que mais nos desgasta — e chamando isso de descanso”, disse a neurocientista Carolina Peuker durante o painel.

Nem tudo é vilão: o futuro depende de intenção

A tecnologia também pode ser cura. Aplicativos de meditação, IA como assistente de foco, realidade virtual terapêutica e plataformas de terapia digital são só alguns exemplos de como usar a tecnologia para fins regenerativos. O problema não é o digital em si — é o design que molda a experiência do usuário e que dita o ritmo de consumo que favorece às grandes empresas.  

Por isso, estratégias como higiene digital, tédio criativo e escuta ativa devem ser incorporadas à rotina de quem cria, ou seja, de você que está lendo isso agora! Não apenas para proteger a sua própria saúde mental, mas para gerar conteúdo com mais propósito e menos ruído.

A era da criação hiperconexão cobra um preço alto — e ele não aparece só na performance, mas na saúde do nosso próprio cérebro. Mais do que nunca, criadores precisam olhar para dentro (do feed e de si mesmos) e entender: a atenção e a autenticidade são os ativos mais valiosos da economia digital. E elas começam pelo autocuidado, por isso, crie com consciência, crie com presença. Seu cérebro agradece.

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